*Estou tendo alguma dificuldade para postar os vídeos, por enquanto vou disponibilizar somente os links.
1) O Método
1) O Método
A pesquisadora Leila Moritz Schwartz, da USP, em sua obra Racismo no Brasil (1991), apresentou o resultado de uma pesquisa realizada em 1988 (ano que se comemorou o centenário da abolição da escravatura no Brasil). Essa pesquisa indicou que 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito racial, mas 98% afirmaram conhecer pessoas e situações que denunciam a existência de discriminação racial no Brasil.
Agora vamos às questões:
As opiniões apresentadas são coerentes? Óbvio que não são. Isso nos permite perceber que ter uma opinião nem sempre é suficiente para falar sobre um assunto com segurança. Ter opinião é banal. Qualquer um pode ter opinião sobre qualquer coisa.
Se ter uma opinião não é suficiente para analisar um assunto, de que forma podemos avaliar essas questões? Com pesquisas e conceitos (vide post anterior). Pesquisas abrangem uma amostragem grande da população, o que mostra determinadas regularidades. Diferente de experiências pessoais, que são isoladas. E conceitos funcionam, usando a metáfora do professor Ivan Dourado, como lentes que permitem ver o mundo de uma forma mais complexa.
Então ao falar sobre a discriminação racial no Brasil, precisamos deixar de lado as ideias pré-fabricas que ouvimos frequentemente (como “todo negro é vagabundo” ou “racismo é vitimismo”) e analisar de maneira clara as fontes confiáveis de informação.
2) Os Dados
O Brasil é um país de proporções continentais, e possui características diferentes ao longo de seu território. Portanto, antes de começarmos a falar sobre dados específicos, precisamos analisar a distribuição racial. O objetivo desse texto não é fazer sensacionalismo, exagerando nos nados para dar a sensação que eles são mais relevantes do que realmente são. Por isso, vamos analisar a tabela abaixo, extraída da Wikipédia, que se baseia em dados do IBGE
Muitas das pesquisas não abordam as cinco etnias definidas pelo IBGE (branca, preta, parda, amarela e indígena), restringindo-se à oposição branco-preto ou branco-negro. Dessa forma, vamos agrupar pardos e pretos na categoria negros. Dessa forma, observamos que o Brasil tem aproximadamente 48,2% de brancos e 50,7% de negros.
O professor José Jorge de Carvalho publicou em 2006 um estudo chamado O confinamento racial do mundo acadêmico brasileiro. Nesse estudo, constatou que na UnB (onde trabalha) havia um quadro de 1500 professores, sendo que desses somente 15 eram negros. Portanto, 1% dos professores eram negros na UnB. Feito isso, passou a pesquisar sobre a porcentagem de docentes negros em outras universidades públicas no Brasil, e constatou que na USP, Unicamp, UFRJ e UFRGS a porcentagem de professores negros não passava de 0,2%; na Ufscar era de 0,5%; na UFMG era de 0,7%. Você acha que a cor da sua pele influencia na chance de você chegar à faculdade?
Esses dados explicitam em primeiro plano a desigualdade racial no ensino superior brasileiro. Em segundo plano, denunciam o problema da falta de representatividade. Ao olhar para pessoas em posições importantes, um negro raramente vê alguém semelhante, que crie identificação. Não existe a representatividade. E os exemplos de negros que ocupam posições importantes, como Barack Obama e Joaquim Barbosa, são raros e distantes. Volto a falar do problema da representatividade depois.
Os próximos dados foram obtidos no Mapa da Violência 2015
Percebemos que em 2012 as armas de fogo foram responsáveis pela morte de aproximadamente 10.600 brancos e 28.900 negros. Ou seja, o número de negros mortos é 172% maior que o de brancos, o que corresponde que para cada branco morto por arma de fogo, foram mortos 2,7 negros pelo mesmo motivo.
Para a população jovem (entre 15 e 29 anos) as armas de fogo vitimaram aproximadamente 5.400 brancos e 17.800 negros. Nesse caso, a quantidade de negros mortos por armas de fogo é 233% maior, o que significa 3,3 negros mortos para cada branco morto.
Esses dados são alarmantes. Podemos considerar a população dividida metade-metade entre brancos e negros, conforme dito anteriormente. Significa que a cada 4 pessoas, teríamos aproximadamente 2 brancos e 2 negros. Mas falando em mortes por arma de fogo, em cada 4 mortos teríamos 1 branco e 3 negros. Você acha que a cor da sua pele influencia na chance de você morrer por arma de fogo?
Trecho do documento na página 81: "Com relação aos níveis de vitimização por AF de negros, existem UFs, como Alagoas e Paraíba, onde essa seletividade racial nos homicídios por AF supera a casa de 1.000%. Em outras palavras, para cada branco vítima de arma de fogo nesses estados, morrem proporcionalmente mais de 10 negros, vítimas de homicídio intencional. O Paraná constitui a única exceção nacional a essa que parece ser uma regra quase universal no país͗ a taxa de óbitos negros é menor que a dos brancos. Isto é, morrem proporcionalmente 36,7% mais brancos que negros."
Essa tabela contém muitas informações, então eu sintetizei parte desses dados no gráfico abaixo. Ele apresenta a mortalidade de brancos e negros por estado no ano de 2012.
Esses dados são alarmantes. Podemos considerar a população dividida metade-metade entre brancos e negros, conforme dito anteriormente. Significa que a cada 4 pessoas, teríamos aproximadamente 2 brancos e 2 negros. Mas falando em mortes por arma de fogo, em cada 4 mortos teríamos 1 branco e 3 negros. Você acha que a cor da sua pele influencia na chance de você morrer por arma de fogo?
Trecho do documento na página 81: "Com relação aos níveis de vitimização por AF de negros, existem UFs, como Alagoas e Paraíba, onde essa seletividade racial nos homicídios por AF supera a casa de 1.000%. Em outras palavras, para cada branco vítima de arma de fogo nesses estados, morrem proporcionalmente mais de 10 negros, vítimas de homicídio intencional. O Paraná constitui a única exceção nacional a essa que parece ser uma regra quase universal no país͗ a taxa de óbitos negros é menor que a dos brancos. Isto é, morrem proporcionalmente 36,7% mais brancos que negros."
Essa tabela contém muitas informações, então eu sintetizei parte desses dados no gráfico abaixo. Ele apresenta a mortalidade de brancos e negros por estado no ano de 2012.
Percebemos quem em 4 (das 27) unidades federativas a mortalidade de brancos é maior que a de negros. São eles: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Contudo, vamos levar em consideração a distribuição racial nesses estados. Para uma análise criteriosa, vamos buscar os dados novamente na tabela. Mas vamos analisar isso com mais calma.
Em São Paulo a população é composta 68,4 % de brancos e 31,9 % de negros. Ou seja, para cada negro existem 2,1 brancos. Analisando a mortalidade por armas de fogo em 2012, foram 2.262 brancos e 1.863 negros vitimados por esse motivo. Ou seja, para cada negro morto houve 1,2 brancos mortos. Simplificando: na população, para cada 1 negro há 2,1 brancos; na mortalidade, para cada 1 negro há 1,2 brancos. Perceba que o fato da quantidade absoluta de mortes de brancos ser maior é porque a população é composta majoritariamente por brancos nesse estado.
Observe, por outro lado, que em Alagoas foram mortos 1624 negros e 68 brancos, o que significa que, para cada branco morto, foram mortos 23,9 negros. Você pode argumentar que nesse estado a quantidade de negros é maior que a de brancos, e é verdade: 26,8% da população é branca e 73% da população é negra. Portanto, para cada branco na população em geral, há 2,7 negros. Portanto a distribuição racial do estado não é justificativa suficiente para o índice de mortalidade de negros ser maior.
Observe, por outro lado, que em Alagoas foram mortos 1624 negros e 68 brancos, o que significa que, para cada branco morto, foram mortos 23,9 negros. Você pode argumentar que nesse estado a quantidade de negros é maior que a de brancos, e é verdade: 26,8% da população é branca e 73% da população é negra. Portanto, para cada branco na população em geral, há 2,7 negros. Portanto a distribuição racial do estado não é justificativa suficiente para o índice de mortalidade de negros ser maior.
3) De onde vem o preconceito?
Os dados apresentados denunciam a existência do preconceito racial atrelado à sociedade brasileira. Mas o preconceito não é natural, ou seja, não é inerente à natureza humana. Ninguém nasce preconceituoso. Se queremos o fim do preconceito, precisamos entender qual a sua origem, para poder combatê-lo.
Machado de Assis, o fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL), geralmente é considerado o maior escritor da história do Brasil. Observe as duas imagens dele abaixo: a da esquerda é uma fotografia, a da direita é uma imagem extraída de um livro didático.
E aí, sacou a diferença? O cara é um personagem negro muito importante na construção da cultura brasileira, mas sua representação o mostra com a pele mais clara. Volto ao problema da representatividade: se você não vê, ou vê poucas, pessoas negras em posições importantes, fica a sensação que é assim que o mundo é. Que as posições de poder não são para os negros. Particularmente, eu acho assustador ver o racismo ser transmitido na escola, lar do conhecimento acadêmico para as crianças.
O problema do lápis "cor de pele" é se cria uma ideia de normalidade, de que a cor certa de pele é rosa claro. Aí se a criança olha para o lápis "cor de pele" e a sua pele é diferente, fica a sensação que tem algo errado com sua pele. É novamente o problema da representatividade, dando a falsa sensação que é feio ou errado ser negro.
E quanto à mídia? Sabemos que a América passou muito tempo recebendo escravos negros. Assim, filmes e novelas que retratam a escravidão negra usam atores negros. Certo. Sabemos também que o Egito fica no nordeste da África, numa região desértica. Agora responda: como você acha que era a aparência dos faraós? Já havia pensado num faraó negro?
4) O negro também é racista
Conforme o que vimos, o preconceito está em todos os setores da sociedade: na família, na escola, na igreja, na mídia... Ao vermos uma manifestação racista, devemos perceber que não é uma manifestação individual, mas a sociedade exercendo seu poder sobre as pessoas. Crescemos em uma sociedade racista, então é muito comum se tornar racista.
*O estudo do conceito fato social do sociólogo francês Émile Durkheim ajuda na compreensão desse fenômeno.
Então sim, os negros também demonstram racismo. Algumas pessoas acham que isso isenta de culpa os seus atos racistas. Eu acho isso assustador. Imagine você ver a si mesmo como inferior aos outros. O vídeo abaixo mostra o que eu quero dizer.
Muita gente diz "os próprios negros são racistas" e é verdade, e isso pra mim é a parte mais triste do racismo. Por isso que os movimentos de orgulho negro são importantes. Para valorizar a cultura e a aparência negra. Pra mostrar que um cabelo crespo não é ruim, como ainda tem gente que pensa. Ouço de vez em quando "um cara pode usar uma camiseta dizendo 100% negro, mas se eu usar uma camiseta 100% branco eu sou chamado de racista". Não é isso. Usar uma camiseta "100% branco" não te faz racista, só te faz um ignorante (pessoa que ignora). Usar uma camiseta que diga "100% negro" é uma forma de resgate de identidade, de mostrar que ser negro não é feio, não é errado, e que ninguém deve se sentir inferior por ser negro.
5) Você não precisa provar que não é racista
O racismo é muito comum. Não é normal, mas é comum. Devemos nos policiar constantemente para não sermos sujeitos de racismo. E ele se manifesta muitas vezes de forma inconsciente. Você vê um branco forçando o cadeado de uma bicicleta e supõe que ele perdeu a chave, você vê um negro forçando o cadeado de uma bicicleta e supõe que ele vai roubar, e você nem percebe isso.
Então não tente mostrar que você não é racista - tente não ser racista. Curtir e compartilhar a foto do bebê negro não vai fazer o mundo menos racista. Não é assim que se combate o racismo. O racismo se combate no cotidiano, nas coisas simples. Diga pro seu amigo que conta piada racista que ele é um babaca. Quando for julgar uma pessoa, pense "e se ela fosse de outra cor?". Pense nas coisas que você faz e diz automaticamente e avalie onde tu expressa o teu racismo.











os faraós não eram negros
ResponderExcluiralém da origem egípcia ser rastreado até o território de onde hoje é a Jordânia ,todos os bustos dos faraós demostram traços e fenotipos típicos dos povos caucasianos do oriente médio ,muito similar aos egípcios modernos tanto em traços quanto em cor....
os negros vem da africa sub-saariana
enquanto o norte da África sempre foi povoado por árabes
fenícios que tem origem no Líbano
egípcios de origem na Jordânia
tanto é que a cultura egípcia é muito similar ás culturas de origem mesopotâmica,e sem a menor semelhança com as culturas sub-saariana (negras ) a maioria dos desenhos egípcios mostram uma cor oliva ,muito similar aos egípcios modernos...e não a negros ....
mas se percebi que gostam de modelar o que é "verdade " segundo seu próprio achismo ,não evidências