sábado, 28 de maio de 2016

A objetificação feminina e a cultura do estupro

Costumo dizer pros meus alunos que é sempre melhor saber que não saber. O conhecimento é apaixonante. Mas, sinceramente, tem coisas que eu preferiria não saber. Existem notícias que eu preferiria não ouvir.

Esses dias li uma notícia de uma "macaca prostituta": ela era mantida amarrada a uma cama e os donos do bordel a mantinham como prostituta, de modo que ela era continuamente estuprada (não venha me dizer que havia consentimento). Essa notícia me estarreceu. Achei o cúmulo da baixeza do espírito humano. Aí ouvi falar da menina  estuprada por mais de 30 caras no RJ. Sempre pode piorar.


A primeira coisa que vem à mente é "esses caras são monstros, são doentes". Mas pense um pouco: qual a probabilidade de ter TRINTA E TRÊS pessoas com a mesma doença no mesmo lugar e mesma hora? Eles não são exceções. São fruto de uma sociedade machista, são fruto da objetificação e desvalorização da mulher.


Uma prova disso é o vídeo no link abaixo. O cara fala em um programa de TV que estuprou uma mulher com a maior naturalidade, e isso é vendido como humor. Isso relativiza o estupro. Ele conta a história, fala como segurou a mulher pelo pescoço com força (ela acabou até desmaiando) e isso é transmitido para o país inteiro como um "fato curioso" sobre a vida do cara. Ou ainda na famosa frase do Paulo Maluf: "se está com desejo sexual, estupra, mas não mata". Dá a ideia de que o estupro é desculpável, que é um crime leve. A fala do Frota dá a ideia de que o estupro é uma "história engraçada" para se contar.


Vídeo: Alexandre Frota fala de quando estuprou uma mulher.


Outra prova de que a sociedade inteira está doente é que alguns dos caras divulgaram o vídeo. Pense bem: você não divulga o que não quer que as pessoas saibam. As coisas que te envergonham, você esconde ou exclui. Você só divulga nas redes sociais as coisas que acha legais, as coisas que você acha que as pessoas vão gostar em você. Se esses caras postaram o vídeo, é porque acharam que ia fazer sucesso. Não acharam errado, não acharam que haveria represália.





A cultura da objetificação da mulher diz, de certa forma, que o homem deve ter todas as suas necessidades satisfeitas a hora que quiser e da forma que quiser, e a mulher deve sempre estar disposta a satisfazer tais necessidades. Daí vem as pessoas com ideias do tipo "não merece ser estuprada, não. Mas com essa roupinha aí? Facilitou né?". Em suma: a mulher deve tomar todo cuidado para que o homem não tenha vontade, porque se ele tiver ela precisa satisfazê-lo. Olha que infantilidade absurda. Ainda ouvimos "mas tava bêbada/drogada". Bizarro conhecer muitos caras que já beberam ou já usaram drogas usar esse argumento. Pregar o puritanismo pros outros é bom, né? Não venham dizer que não teria sido estuprada se estivesse em casa, na igreja, na escola, porque mulheres são estupradas em todos esses lugares.Além disso, a maior parte dos estupros ainda acontece dentro de casa, por familiares






Essa cultura é fruto, em parte, da propaganda. Mulher sendo tratada como objeto é comum na mídia. Alguém pode perguntar "mas então porque essas mulheres aceitam fazer a propaganda?". Okay, a mulher faz o que quiser com o próprio corpo, inclusive se vender na TV se ela achar que deve. Quando falamos sobre a cultura machista deve ficar claro que isso é uma coisa generalizada, e é compartilhada pela maior parte das pessoas. Assim como tem  mulher que propaga o machismo, tem  negro que propaga o racismo, tem pobre que prega o liberalismo econômico.


Mas a questão não é proibir a mulher de fazer propaganda se vulgarizando. Não é sobre a liberdade individual dela sobre si mesma que me refiro, mas é sobre o que esses comerciais representam. É sobre parecer normal que a mulher seja um ser sem vontade ou personalidade individual,que está ali somente para satisfazer as vontades masculinas.



É comum ver mulheres que se habituam a esse sistema de submissão. Como as modelos que fazem essas propagandas, como as mulheres que xingam as outras pela forma de se vestir, pelas gurias que falam mal das gurias que ficam com muitos guris. Essa gente nem percebe, mas defende um sistema que o homem pode (e deve, na medida do possível) fazer tudo o que quiser. Que o homem pode andar de bermuda de futebol e sem camisa na rua, pode beber até não lembrar o que fez na noite anterior, pode ficar com várias mulheres (isso é até status). Que a mulher deve ser "bela, recatada e do lar", senão é piranha.


E pra finalizar, não venha com o papinho demagogo barato "o 'mito' propôs castração química para estupradores", porque isso não altera a cultura do estupro. É fato de conhecimento comum que homens que são presos por estupro são estuprados dentro da cadeia (apesar de eu não ter lido em alguma fonte sobre isso, sempre ouvi a respeito em vários lugares), mas isso não impede que aconteçam estupros, certo? Em alguns países a homossexualidade é punida com a morte, mas isso não impede que pessoas do mesmo sexo se amem nesses lugares. Em alguns estados no EUA a pena de morte é prevista em lei, mas isso não impede as pessoas de praticarem os crimes que levam à cadeira elétrica, não é?


Além disso, o problema do estupro não se restringe à penetração. É o conceito na cabeça do cara de que ele pode fazer o que quiser com a mulher. Se castrar o cara ele vai continuar com a sua perversão, podendo começar a usar objetos para isso.

A punição por parte do Estado é necessária, mas não é suficiente para resolver nenhum problema. A solução para isso é discussão de gênero em todos os setores da sociedade, começando pela educação.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Ideologia - eu quero uma pra viver


Qual sua orientação ideológica política? Mesmo que você não se declare adepto a algum partido, qual seu posicionamento frente à política?

Se você respondeu "sou neutro, não gosto nem da direita nem da esquerda", você precisa entender o problema da falta de ideologia.






Primeiro, vamos observar que a neutralidade total não é uma coisa real. Nós podemos tentar ser neutros na maior medida possível, mas é impossível ser totalmente imparcial. As experiências pessoais do indivíduo, as pessoas com as quais convive e os ambientes que ele frequenta impedem que ele seja totalmente neutro.

Posso usar como exemplo o Cálculo Diferencial e Integral, que é uma parte da matemática aplicada. Para os íntimos, só Cálculo. Mesmo que você não conheça o cálculo, só de ouvir o nome já tem uma impressão sobre ele, que pode ser algo como "eita, não quero nem ver" ou "deve ser outra coisa difícil que não serve pra nada" ou "pelo que eu ouço falar por aí, é coisa pra louco" ou ainda "deve ser muito louco, imagina que legal". Se você já conhece o cálculo, tente lembrar como era antes de conhecer.

Perceba que a história que você tem com a matemática, seja pela forma que você se relaciona com ela no colégio, ou por ter um amigo ou parente que estude cálculo, já te dá uma impressão sobre o cálculo antes mesmo que você o conheça de verdade. Se você for começar a estudar cálculo, já vai começar com alguma impressão pré concebida.

Outro exemplo que podemos observar sobre a (im) parcialidade é: imagine que você está caminhando pela rua e vê uma pessoa batendo num cachorro. Você pode pensar "se eu ajudar a bater no cachorro serei uma má pessoa, se eu salvar o cachorro eu serei uma boa pessoa, então se eu não fizer nada eu serei imparcial". Será correto isso? Se você não fizer nada, o cachorro vai continuar apanhando. Se você não fizer nada, estará sendo aliado do cara que está batendo. Se você perguntar "então, o que eu devo fazer para ser imparcial?" a resposta é "não há o que possa ser feito".

Retomando a ideia da pretensa imparcialidade política: se você tem uma identificação ideológica, você pode ver a política com olhar mais crítico. Você percebe problemas em algumas posturas políticas, não somente na corrupção. A corrupção é um grande problema, não quero neglicenciar isso, mas não é o único problema.

Não quero dizer que você precisa "escolher um time", seguindo a lógica dicotômica sou de direita/sou de esquerda, e aceitar o pacote de opiniões que vem junto. Acho que o que você pode ter uma ideologia própria, singular como você mesmo. As pessoas não são iguais, então não precisam pensar todas do mesmo jeito. Na mesma ideologia, você pode concordar com alguns aspectos e discordar de outros, e aí você tem uma visão própria sobre o assunto.

Até mesmo se alienar em relação ao processo político é uma escolha que você pode fazer. Afinal, você não é obrigado a conhecer tudo e ter opinião sobre tudo. Isso inclusive é comum, porque não temos uma educação política. Em geral, as pessoas não conhecem as ideologias e isso conduz a visões distorcidas sobre elas.

E é esse o problema. Como eu disse, não existe imparcialidade total. Quando você não controla sua mente, alguém controla por você. Quando você não se posiciona ideologicamente, adere a qualquer ideologia sem perceber.


Uma metáfora pra isso é descrita no livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell (o livro é muito bom, recomendo veementemente). Após a tomada da fazenda, os bichos fazem as decisões em assembleias. Os dois porcos com maior poder, Napoleão e Bola de Neve, sempre discordam em seus posicionamentos. Sobre o moinho de vento, por exemplo, Bola de Neve defendia que fosse construído, pois depois de pronto ele reduziria a carga de trabalho dos animais, além de poder instalar um dínamo, que geraria energia elétrica e traria uma série de confortos. Napoleão afirmava que a construção do moinho de vento seria desnecessária, pois os animais já tinham bastante trabalho e a construção do moinho seria demasiadamente cansativa, e que sem o moinho animais já viviam satisfatoriamente bem. Os bichos concordavam com os dois. Ao ouvir o discurso de Bola de Neve, achavam que o esforço para construir o moinho valeria a pena. Ao ouvir o discurso de Napoleão, achavam que realmente não precisavam daquilo.

Um problema da falta de uma educação política é que os discursos pré-fabricados são muito facilmente aceitos. Então ninguém pensa muito, só repete. E quando a pessoa se depara com uma ideia diferente, não a analisa, somente a refuta e segue repetindo seu discurso de sempre. Entender uma outra lógica é desconfortável, principalmente quando ela é contrária à nossa visão de mundo. Abandonar uma opinião é como abandonar uma parte de si.


O livro Fahrenheit 451, de Ray Bradbury (outro livro muito bom e que eu recomendo) fala sobre isso em um trecho: "Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum."

Outro problema que acompanha a falta de ideologia é o surgimento dos "messias" políticos. Personagens que ganham popularidade por possuir um discurso político pautado pelo senso comum. Não possuem uma visão política verdadeira, só repetem o que o povo gosta de ouvir. Eles ganham visibilidade, vão ganhando popularidade e podem acabar até eleitos. Chegam nas posições de poder, e, pela falta de uma visão política, só fazem bobagem.

Um bom exemplo disso foi a eleição do Sartori para governador do RS. Ele não tinha um discurso político, não tinha propostas, não estava a par da real situação do estado. Mesmo assim foi eleito, simplesmente porque as pessoas não queriam votar num determinado partido.






Uma vez eleito, a sua primeira medida foi aumentar o próprio salário. Encomendou para o Palácio das Hortênsias (residência oficial do governador em Canela) lençóis de cetim, toalhas de algodão egípcio, travesseiros de pluma e colchões de microfibra. Suspendeu o serviço de atendimento médico por helicóptero nas estradas gaúchas e poucos dias depois utilizou um helicóptero do governo para ir a um churrasco de um correligionário. Além, é claro, de aumentar a alíquota do ICMS, mesmo tendo prometido durante a campanha que não aumentaria. E vai aumentar de novo na próxima terça-feira.Vetou a emenda que destinava parte do dinheiro da venda do Banrisul para a educação. Fechou postos da Brigada Militar, cancelou nomeações de policiais aprovados em concurso, parcelou salários do funcionalismo.

Apesar desse cenário, ainda é defendido por muitas pessoas. Há quem diga que vai ser o melhor governador que o estado teve. O problema está aí: as pessoas não têm ideologia política clara, então têm dificuldade de ter uma visão crítica sobre as medidas do governo.


Outro messias político, um vampiro que se alimenta da ignorância de parte da população, é o deputado Jair Bolsonaro. Ele não é conhecido por ter propostas concretas sobre educação, saúde, segurança ou economia, mas por berrar opiniões banais como "bandido bom é bandido morto".

Sobre a imagem ao lado, já ouvimos um discurso assim, e podemos ver no que resultou.

Isso sem falar na eleição do ex-jogador de futebol Jardel. Eu realmente não entendo porque 41 227 pessoas votaram nesse cara. Não entendo mesmo.





Para concluir, quero repetir essa frase que conheci na internet e achei genial: se você não controlar sua mente, alguém vai controlar por você. Se você não tiver um posicionamento político claro e coerente, você acaba elegendo esses messias de discurso agradável, mas vazio.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Se votar mudasse algo, seria proibido

Política é hoje um assunto popular. A parte boa é que as pessoas se preocupam com esse tema, esse assunto chama a atenção hoje. A parte ruim é que as discussões sobre política são como as discussões sobre futebol. É só trocar os times pelos partidos, os jogadores pelos políticos e pronto. Não temos uma educação voltada para a política, então vale falar qualquer coisa. Aí vem o senso comum, com as frases prontas do tipo "todo político é corrupto" e as brigas do tipo "teu partido é mais corrupto que o meu".



Como o blog tem o objetivo de aprofundar um pouco as ideias, pretendo nesse texto falar sobre os problemas do nosso sistema político. Para que o texto não fique demasiadamente longo e cansativo, vou abordar somente o problema do financiamento de campanhas políticas por empresas (veja bem, é só um aspecto de um sistema cheio de problemas).



Recentemente, houve uma tentativa por parte do Congresso Nacional de regularizar essa prática. O projeto foi vetado pela presidente Dilma Rousseff, que aderiu à sugestão do STF (Supremo Tribunal Federal) que considerou a prática inconstitucional. A tendência é que aumentem os financiamentos das campanhas por empresários (pessoas físicas), além dos montantes movimentados em caixa dois.

Vamos analisar por que essa prática prejudica a democracia. Observe os dados referentes às eleições para deputado federal em 2014:
50% dos candidatos receberam 99,25% das doações
20% dos candidatos receberam 93,19% das doações (esse grupo representa 96% dos eleitos)
10% dos candidatos receberam 77,89% das doações

É evidente que o grupo dos candidatos que recebem doações de empresas é muito seleto. Enquanto metade dos candidatos recebe 0,75% das doações, 10% dos candidatos recebem 78%.

Busquei nos sites donos do congresso (que traz informações sobre qual candidato recebeu quanto e de quem) e eleições 2014 (votação obtida por cada candidato) dados relativos aos candidatos a deputados federais no Rio Grande do Sul. A ideia foi fazer um gráfico que relacionasse a quantia recebida em doações e o número de votos obtidos por cada candidato. Fazer ainda uma interpolação linear, ou seja, uma reta que mostre o comportamento geral dos dados (na verdade é a reta que melhor mostra o comportamento dos dados). Não se mostrou possível colocar todos os candidatos, que eram 262. Então eu peguei um candidato por página no site donos do congresso e procurei a votação respectiva no site eleições 2014. O gráfico resultante está abaixo.



Notamos que o gráfico possui regiões muito diferentes. Temos uma concentração grande de candidatos com poucas doações e poucos votos (canto inferior esquerdo), e poucos candidatos que receberam um grande volume de dinheiro. Devido ao pequeno número de candidatos nesse segundo grupo, busquei mais candidatos com doações acima de R$ 500.000,00, e o resultado é o gráfico abaixo.



Nos dois casos, o interpolador linear é crescente, ou seja, a tendência geral é que quanto mais dinheiro o candidato consegue, mais votos recebe. Existem candidatos fora da curva, ou seja, que não se encaixam nesse padrão, mas são exceções. E não podemos basear uma argumentação em exceções.

Por que razão, motivo ou circunstância uma empresa doaria dinheiro para uma campanha política? Isso é ilógico, porque o objetivo de uma empresa é o lucro (pelo menos de maneira geral). A resposta não é difícil: uma empresa não doa, ela investe. Então é claro que uma empresa não doaria dinheiro para a campanha de um candidato incorruptível, que governe somente para a nação. Quanto mais maleável é a índole do candidato, maior o interesse das empresas nele.

Em outras palavras, a política eleitoral é um camelô. Para se eleger, o candidato precisa de dinheiro para a campanha. E só recebe dinheiro o candidato que se submeter aos interesses de empresas privadas. Nas palavras de Dão Real Pereira dos Santos "o processo político nacional está destruindo a política pura".

Além disso, o candidato eleito com financiamento privado não pode simplesmente ignorar as demandas dos seus financiadores. Pelo menos não se tiver intenção de ser eleito novamente. Se ele deixar de atender às solicitações das empresas que doaram dinheiro a sua campanha política, na eleição seguinte ele não terá doações. Diz o ditado: "quem paga a banda escolhe a música".

O problema do acesso à informação relativa ao processo eleitoral reduz a liberdade de voto do cidadão - e por consequência restringe a participação democrática. Enquanto o eleitor tem somente o poder do voto (único), os detentores de grandes fortunas têm controle direto sobre os governantes.

A pior parte é que vende-se a ideia de que o voto faz diferença para mudar o Brasil. Cara, teu candidato nem sabe que tu existe. E a maioria dos candidatos que aparecem na grande mídia são pilantras de marca maior. E quando surgem movimentos populares de participação política, eles tendem a ser criminalizados. Vide movimentos sindicais e protestos políticos com relevância, como o dos estudantes secundaristas em SP e GO.

Não entendam mal, a mensagem que eu quero transmitir não é "vote em qualquer um, que dá tudo no mesmo". Não é isso. Hoje temos acesso às informações sobre a vida e a carreira dos candidatos pela internet, e podemos sim encontrar bons candidatos para eleger. Devemos valorizar o voto, e confiá-lo a políticos que nos representem.

Grande parte do texto foi baseado nas anotações de uma palestra realizada pelo pesquisador Dão Real Pereira dos Santos, promovida pelo NEMIS (Núcleo de Estudos sobre Movimentos e Identidades Sociais. Curtam a página deles, sempre rola umas palestras muito bacanas, com uma galera que realmente sabe do que fala).

Pra finalizar, deixo a sugestão de música Geração de Pensadores, do Fábio Brazza e Mc Garden. São dois caras com produção musical MUITO IRADA, vale muito a a pena conferir o trabalho deles pelas redes sociais.






domingo, 31 de janeiro de 2016

Você acha que a cor da sua pele influencia na sua vida?

*Estou tendo alguma dificuldade para postar os vídeos, por enquanto vou disponibilizar somente os links.

1)    O Método
A pesquisadora Leila Moritz Schwartz, da USP, em sua obra Racismo no Brasil (1991), apresentou o resultado de uma pesquisa realizada em 1988 (ano que se comemorou o centenário da abolição da escravatura no Brasil). Essa pesquisa indicou que 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito racial, mas 98% afirmaram conhecer pessoas e situações que denunciam a existência de discriminação racial no Brasil.
Agora vamos às questões:
As opiniões apresentadas são coerentes? Óbvio que não são. Isso nos permite perceber que ter uma opinião nem sempre é suficiente para falar sobre um assunto com segurança. Ter opinião é banal. Qualquer um pode ter opinião sobre qualquer coisa.
Se ter uma opinião não é suficiente para analisar um assunto, de que forma podemos avaliar essas questões? Com pesquisas e conceitos (vide post anterior). Pesquisas abrangem uma amostragem grande da população, o que mostra determinadas regularidades. Diferente de experiências pessoais, que são isoladas. E conceitos funcionam, usando a metáfora do professor Ivan Dourado, como lentes que permitem ver o mundo de uma forma mais complexa.
Então ao falar sobre a discriminação racial no Brasil, precisamos deixar de lado as ideias pré-fabricas que ouvimos frequentemente (como “todo negro é vagabundo” ou “racismo é vitimismo”) e analisar de maneira clara as fontes confiáveis de informação.

2)    Os Dados
O Brasil é um país de proporções continentais, e possui características diferentes ao longo de seu território. Portanto, antes de começarmos a falar sobre dados específicos, precisamos analisar a distribuição racial. O objetivo desse texto não é fazer sensacionalismo, exagerando nos nados para dar a sensação que eles são mais relevantes do que realmente são. Por isso, vamos analisar a tabela abaixo, extraída da Wikipédia, que se baseia em dados do IBGE


Muitas das pesquisas não abordam as cinco etnias definidas pelo IBGE (branca, preta, parda, amarela e indígena), restringindo-se à oposição branco-preto ou branco-negro. Dessa forma, vamos agrupar pardos e pretos na categoria negros. Dessa forma, observamos que o Brasil tem aproximadamente 48,2% de brancos e 50,7% de negros.
 O professor José Jorge de Carvalho publicou em 2006 um estudo chamado O confinamento racial do mundo acadêmico brasileiro. Nesse estudo, constatou que na UnB (onde trabalha) havia um quadro de 1500 professores, sendo que desses somente 15 eram negros. Portanto, 1% dos professores eram negros na UnB. Feito isso, passou a pesquisar sobre a porcentagem de docentes negros em outras universidades públicas no Brasil, e constatou que na USP, Unicamp, UFRJ e UFRGS a porcentagem de professores negros não passava de 0,2%; na Ufscar era de 0,5%; na UFMG era de 0,7%. Você acha que a cor da sua pele influencia na chance de você chegar à faculdade?
Esses dados explicitam em primeiro plano a desigualdade racial no ensino superior brasileiro. Em segundo plano, denunciam o problema da falta de representatividade. Ao olhar para pessoas em posições importantes, um negro raramente vê alguém semelhante, que crie identificação. Não existe a representatividade. E os exemplos de negros que ocupam posições importantes, como Barack Obama e Joaquim Barbosa, são raros e distantes. Volto a falar do problema da representatividade depois.



Os próximos dados foram obtidos no Mapa da Violência 2015


Percebemos que em 2012 as armas de fogo foram responsáveis pela morte de aproximadamente 10.600 brancos e 28.900 negros. Ou seja, o número de negros mortos é 172% maior que o de brancos, o que corresponde que para cada branco morto por arma de fogo, foram mortos 2,7 negros pelo mesmo motivo.
Para a população jovem (entre 15 e 29 anos) as armas de fogo vitimaram aproximadamente 5.400 brancos e 17.800 negros. Nesse caso, a quantidade de negros mortos por armas de fogo é 233% maior, o que significa 3,3 negros mortos para cada branco morto.
Esses dados são alarmantes. Podemos considerar a população dividida metade-metade entre brancos e negros, conforme dito anteriormente. Significa que a cada 4 pessoas, teríamos aproximadamente 2 brancos e 2 negros. Mas falando em mortes por arma de fogo, em cada 4 mortos teríamos 1 branco e 3 negros. Você acha que a cor da sua pele influencia na chance de você morrer por arma de fogo?
           Trecho do documento na página 81: "Com relação aos níveis de vitimização por AF de negros, existem UFs, como Alagoas e Paraíba, onde essa seletividade racial nos homicídios por AF supera a casa de 1.000%. Em outras palavras, para cada branco vítima de arma de fogo nesses estados, morrem proporcionalmente mais de 10 negros, vítimas de homicídio intencional. O Paraná constitui a única exceção nacional a essa que parece ser uma regra quase universal no país͗ a taxa de óbitos negros é menor que a dos brancos. Isto é, morrem proporcionalmente 36,7% mais brancos que negros."
Essa tabela contém muitas informações, então eu sintetizei parte desses dados no gráfico abaixo. Ele apresenta a mortalidade de brancos e negros por estado no ano de 2012.



Percebemos quem em 4 (das 27) unidades federativas a mortalidade de brancos é maior que a de negros. São eles: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Contudo, vamos levar em consideração a distribuição racial nesses estados. Para uma análise criteriosa, vamos buscar os dados novamente na tabela. Mas vamos analisar isso com mais calma.
Em São Paulo a população é composta 68,4 % de brancos e 31,9 % de negros. Ou seja, para cada negro existem 2,1 brancos. Analisando a mortalidade por armas de fogo em 2012, foram 2.262 brancos e 1.863 negros vitimados por esse motivo. Ou seja, para cada negro morto houve 1,2 brancos mortos. Simplificando: na população, para cada 1 negro há 2,1 brancos; na mortalidade, para cada 1 negro há 1,2 brancos. Perceba que o fato da quantidade absoluta de mortes de brancos ser maior é porque a população é composta majoritariamente por brancos nesse estado. 
           Observe, por outro lado, que em Alagoas foram mortos 1624 negros e 68 brancos, o que significa que, para cada branco morto, foram mortos 23,9 negros. Você pode argumentar que nesse estado a quantidade de negros é maior que a de brancos, e é verdade: 26,8% da população é branca e 73% da população é negra. Portanto, para cada branco na população em geral, há 2,7 negros. Portanto a distribuição racial do estado não é justificativa suficiente para o índice de mortalidade de negros ser maior.


  3) De onde vem o preconceito? 
Os dados apresentados denunciam a existência do preconceito racial atrelado à sociedade brasileira. Mas o preconceito não é natural, ou seja, não é inerente à natureza humana. Ninguém nasce preconceituoso. Se queremos o fim do preconceito, precisamos entender qual a sua origem, para poder combatê-lo.
Machado de Assis, o fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL), geralmente é considerado o maior escritor da história do Brasil. Observe as duas imagens dele abaixo: a da esquerda é uma fotografia, a da direita é uma imagem extraída de um livro didático.


E aí, sacou a diferença? O cara é um personagem negro muito importante na construção da cultura brasileira, mas sua representação o mostra com a pele mais clara. Volto ao problema da representatividade: se você não vê, ou vê poucas, pessoas negras em posições importantes, fica a sensação que é assim que o mundo é. Que as posições de poder não são para os negros. Particularmente, eu acho assustador ver o racismo ser transmitido na escola, lar do conhecimento acadêmico para as crianças.


O problema do lápis "cor de pele" é se cria uma ideia de normalidade, de que a cor certa de pele é rosa claro. Aí se  a criança olha para o lápis "cor de pele" e a sua pele é diferente, fica a sensação que tem algo errado com sua pele. É novamente o problema da representatividade, dando a falsa sensação que é feio ou errado ser negro.











E quanto à mídia? Sabemos que a América passou muito tempo recebendo escravos negros. Assim, filmes e novelas que retratam a escravidão negra usam atores negros. Certo. Sabemos também que o Egito fica no nordeste da África, numa região desértica. Agora responda: como você acha que era a aparência dos faraós? Já havia pensado num faraó negro?











4) O negro também é racista
Conforme o que vimos, o preconceito está em todos os setores da sociedade: na família, na escola, na igreja, na mídia... Ao vermos uma manifestação racista, devemos perceber que não é uma manifestação individual, mas a sociedade exercendo seu poder sobre as pessoas. Crescemos em uma sociedade racista, então é muito comum se tornar racista. 
*O estudo do conceito fato social do sociólogo francês Émile Durkheim ajuda na compreensão desse fenômeno.
Então sim, os negros também demonstram racismo. Algumas pessoas acham que isso isenta de culpa os seus atos racistas. Eu acho isso assustador. Imagine você ver a si mesmo como inferior aos outros. O vídeo abaixo mostra o que eu quero dizer.



Muita gente diz "os próprios negros são racistas" e é verdade, e isso pra mim é a parte mais triste do racismo. Por isso que os movimentos de orgulho negro são importantes. Para valorizar a cultura e a aparência negra. Pra mostrar que um cabelo crespo não é ruim, como ainda tem gente que pensa. Ouço de vez em quando "um cara pode usar uma camiseta dizendo 100% negro, mas se eu usar uma camiseta 100% branco eu sou chamado de racista". Não é isso. Usar uma camiseta "100% branco" não te faz racista, só te faz um ignorante (pessoa que ignora). Usar uma camiseta que diga "100% negro" é uma forma de resgate de identidade, de mostrar que ser negro não é feio, não é errado, e que ninguém deve se sentir inferior por ser negro.



5) Você não precisa provar que não é racista
O racismo é muito comum. Não é normal, mas é comum. Devemos nos policiar constantemente para não sermos sujeitos de racismo. E ele se manifesta muitas vezes de forma inconsciente. Você vê um branco forçando o cadeado de uma bicicleta e supõe que ele perdeu a chave, você vê um negro forçando o cadeado de uma bicicleta e supõe que ele vai roubar, e você nem percebe isso.




Então não tente mostrar que você não é racista - tente não ser racista. Curtir e compartilhar a foto do bebê negro não vai fazer o mundo menos racista. Não é assim que se combate o racismo. O racismo se combate no cotidiano, nas coisas simples. Diga pro seu amigo que conta piada racista que ele é um babaca. Quando for julgar uma pessoa, pense "e se ela fosse de outra cor?". Pense nas coisas que você faz e diz automaticamente e avalie onde tu expressa o teu racismo. 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O Método Tretológico

          O texto de inauguração deste blog não poderia ser outro. Muita gente costuma tretar na internet, mas às vezes não percebem que sua argumentação não é sólida o suficiente para debater um tema complexo. Bom, o objetivo desse texto é mostrar como deve ser uma argumentação consistente.
Observe que eu não pretendo dizer qual deve ser a sua opinião mas sim como deve ser a sua argumentação. Não me importa se você é de direita ou de esquerda, libertário ou comunista. Importa como você defende seu ponto de vista.
Por exemplo, digamos uma pessoa X esteja discutindo sobre ventiladores. A pessoa X prefere ventiladores com as pás triangulares. Se ela disser “eu gosto mais dos ventiladores com pás triangulares” ou “os ventiladores com pás triangulares são mais bonitos” sua fala não tem relevância. Isso funciona para a pessoa X, mas não é uma verdade inegável. Contudo, se a pessoa X disser “os ventiladores com pás triangulares movimentam uma massa de ar maior” ou “consomem, em média, menos energia” ou “acumulam menos sujeira”, assim ela poderá mostrar que esse tipo de ventilador realmente seria melhor. Observe que o que faz a diferença não é a opinião individual da pessoa X, mas a argumentação que ela usa.

Mas se a opinião não é suficiente para debater um problema social, em que devemos nos embasar?

Galileu é conhecido como o pai da Ciência Moderna por ter sido o cara que introduziu a ideia de que o conhecimento científico deveria ter a experimentação como suporte. Antes dele, seguia-se a tradição da Grécia Clássica, na qual se acreditava que o conhecimento poderia ser conquistado pelo pensamento puro.


Um bom exemplo pra falar sobre isso é sobre a queda dos corpos. Antes de Galileu, se acreditava que um corpo mais pesado cairia mais rápido que um corpo mais leve (Aristóteles afirmou que uma pedra de 2 kg cairia duas vezes mais rápido que uma pedra de 1 kg). Galileu provou que isso estava errado. Em uma experiência que ficou famosa, jogou dois objetos de tamanhos e massas diferentes da torre de Pisa, e ambos os corpos chegaram ao solo ao mesmo tempo.
Aí você poderia me dizer: “Opa! Peraí! Outro dia eu soltei uma bola de boliche e uma pena ao mesmo tempo e da mesma altura, e a pena chegou no chão bem depois que a bola”. Certo. A questão é a seguinte: Essa tua experiência pessoal não é suficiente para explicar a queda dos corpos. Você não pode usar uma coisa que você vivenciou para debater um assunto amplo.
*Um exemplo clássico desse comportamento é quando falamos com pessoas com mais de 40 ou 50 anos sobre a ditadura militar. Muitos costumam dizer “mas eu vivi nessa época, não era tão ruim” sem perceber que sua experiência pessoal não é o suficiente para entender a ditadura no Brasil (realidade maior que a experiência de uma pessoa).
*Outro exemplo são as pessoas que dizem “minha vó fuma desde a adolescência, tem 80 anos e não tem câncer, logo cigarro não tem nada a ver com câncer de pulmão”. Isso não é argumento contra pesquisas sobre os efeitos do cigarro que envolvem centenas de fumantes.
Certo, na ciência temos o método científico, que se baseia na experimentação. E nas tretas? No que podemos nos embasar para defender um ponto de vista, já que não é uma coisa simples fazer experiências sociais relevantes? EM PESQUISAS. Pesquisas abrangem uma grande distribuição amostral, e seguem certos critérios quanto a isso. E não adianta tentar defender um ponto de vista individual usando o argumento “mas todo mundo que eu conheço diz isso”, porque, além de ser um argumento duvidoso (você realmente sabe que todo mundo que tu conhece diz isso?), é limitado. A menos que você conheça todas as pessoas do Brasil.

Conceitos

Aqui nós estamos chegando em um terreno um pouco mais complexo, porém muito mais produtivo. Continuando a alegoria com método científico, vou seguir com o exemplo da queda dos corpos. Chega um momento que você está estudando a respeito e quer saber por que os corpos com massas diferentes caem na mesma velocidade, e por que isso falha pro caso da pena. Como você pode fazer isso?
Através de conceitos. É o seguinte: autores que estudam de maneira criteriosa, sistemática e profunda um certo tema, desenvolvem o que se chamam de conceitos. Na ciência, os conceitos são explicações, geralmente acompanhados por enunciados matemáticos, que nos permitem entender um fenômeno.
Sobre a queda dos corpos, um bom autor é Isaac Newton. Seus conceitos acerca da gravitação são excelentes. Ele explica, até certo ponto, como funciona a gravidade. Outro autor que ajuda nesse sentido é Albert Einstein. Sua teoria da relatividade geral também versa sobre a gravidade, de maneira um pouco diferente da teoria newtoniana.
Na ciência podemos usar conceitos para compreender a realidade, nas tretas podemos usar... conceitos! Mas é claro que aí mudam os autores. Nesse caso, segundo a metáfora do meu professor e amigo Ivan Dourado, os conceitos são como lentes que nos permitem enxergar a realidade de uma outra maneira, mais complexa.
Se você quiser aprofundar as discussões, pode buscar autores na filosofia, na sociologia, até na psicanálise. Isso demanda tempo, e existem conceitos que exigem muito estudo, mas vale muito a pena para a formação intelectual da pessoa.
*Aprenda os conceitos, mas não como mapas, que mostram como o mundo é. Use-os como lentes (reforço a metáfora do Ivan), que te fazem ver o mundo de outra maneira. Há pessoas que decoram os conceitos e acham que todo o mundo se encaixa neles, e deixam de ver o mundo, passam a ver apenas os conceitos. Exemplo: alguns liberais (à lá Constantino) acreditam que a interação oferta-demanda é perfeita na regulação do mercado, sendo que quando houvesse uma grande produção de determinado produto, haveria uma redução no preço (devido à grande oferta) e isso beneficiaria o consumidor. Parece fazer sentido, certo? Mas como se explica a notícia nesse link?

Pense Fora da Caverna

O Mito da Caverna é uma alegoria famosa criada pelo filósofo grego Platão. Nessa história, ele conta que em uma caverna vivia um grupo de pessoas, que ficavam olhando para a parede no fundo. Atrás deles ficava a entrada da caverna, que projetava sombras à sua frente. Ao olhar as sombras, essas pessoas pensavam que estavam olhando para o mundo real. Até que uma pessoa resolveu se virar e olhar para trás. Viu a entrada da caverna, se aproximou e olhou para fora. Como dentro da caverna é muito escuro, a claridade do dia fez seus olhos doerem. Contudo, essa pessoa esperou um pouco, até seus olhos se acostumarem, e então saiu para explorar o mundo. Depois, voltou para convidar as outras pessoas na caverna para conhecerem o mundo real. Levou essas pessoas até a entrada da caverna. No entanto, o sol feriu seus olhos e as pessoas saíram da entrada da caverna, voltando para a escuridão no fundo, que era confortável.
Pois bem, o que eu quero dizer por pense fora da caverna é: pare por um momento de pensar do jeito que você sempre pensou. Analise os fatos com pontos de vista diferentes. Pense se os argumentos da pessoa que discorda de você fazem sentido. “Seus olhos vão doer no começo” (sua mente vai bugar) mas no final isso vai te fazer crescer. Lembre que o velho pensamento simplista não engrandece um debate. Além disso, uma análise simplista de um problema complexo pode te levar a conclusões erradas.

Exemplo comum: Pena de morte vai reduzir a criminalidade. Será mesmo? Qual é a lógica? “Vamos matar todos os bandidos, daí acabam os bandidos e a sociedade está segura”? Ah, fala sério. “Os criminosos vão ter medo da pena, então vão parar”? Pense o seguinte: estupradores costumam ser estuprados na cadeia, e isso não impede que surjam outros estupradores.
*Além disso, a pena de morte é proibida por lei, e é cláusula pétrea, ou seja, não pode ser mudada. Se seu candidato diz que luta pela pena de morte, então ou ele não conhece a legislação brasileira (apesar de legislar há 25 anos) ou ele quer te enganar com um discurso populista, que não tem fundamento mas ganha votos.

Comparações

Dependendo do assunto, é conveniente fazer comparações. Quem é professor sabe bem como uma comparação bem colocada facilita a compreensão das ideias. Mas temos que ter um pouco de cuidado ao fazer comparações, porque corremos o risco de comparar coisas que na verdade não têm nada a ver.
As comparações mais comuns são comparações entre países. Nesse sentido, você precisa entender que países diferentes têm distribuições étnicas diferentes, histórias diferentes, valores sociais diferentes, economias diferentes. Já ouvi “a Inglaterra tem um modelo econômico essencialmente liberal, e lá as pessoas comuns andam de Mercedes e BMW”. Legal. O problema é: você realmente acha que você pode comparar a Inglaterra e o Brasil levando em consideração só o sistema econômico? Lembre que a Inglaterra foi o primeiro país a passar por uma Revolução Industrial, e o Brasil teve uma industrialização tardia.


Uma maneira segura de fazer esse tipo de comparação é analisar no mesmo país o que aconteceu antes e depois de um certo fenômeno. Por exemplo, se falamos sobre a legalização das drogas, podemos analisar como era a Holanda antes da legalização e o que mudou depois da legalização, ou podemos analisar como era o Uruguai antes da legalização e como ficou depois da legalização.