Esses dias li uma notícia de uma "macaca prostituta": ela era mantida amarrada a uma cama e os donos do bordel a mantinham como prostituta, de modo que ela era continuamente estuprada (não venha me dizer que havia consentimento). Essa notícia me estarreceu. Achei o cúmulo da baixeza do espírito humano. Aí ouvi falar da menina estuprada por mais de 30 caras no RJ. Sempre pode piorar.
A primeira coisa que vem à mente é "esses caras são monstros, são doentes". Mas pense um pouco: qual a probabilidade de ter TRINTA E TRÊS pessoas com a mesma doença no mesmo lugar e mesma hora? Eles não são exceções. São fruto de uma sociedade machista, são fruto da objetificação e desvalorização da mulher.
Uma prova disso é o vídeo no link abaixo. O cara fala em um programa de TV que estuprou uma mulher com a maior naturalidade, e isso é vendido como humor. Isso relativiza o estupro. Ele conta a história, fala como segurou a mulher pelo pescoço com força (ela acabou até desmaiando) e isso é transmitido para o país inteiro como um "fato curioso" sobre a vida do cara. Ou ainda na famosa frase do Paulo Maluf: "se está com desejo sexual, estupra, mas não mata". Dá a ideia de que o estupro é desculpável, que é um crime leve. A fala do Frota dá a ideia de que o estupro é uma "história engraçada" para se contar.
Vídeo: Alexandre Frota fala de quando estuprou uma mulher.
Outra prova de que a sociedade inteira está doente é que alguns dos caras divulgaram o vídeo. Pense bem: você não divulga o que não quer que as pessoas saibam. As coisas que te envergonham, você esconde ou exclui. Você só divulga nas redes sociais as coisas que acha legais, as coisas que você acha que as pessoas vão gostar em você. Se esses caras postaram o vídeo, é porque acharam que ia fazer sucesso. Não acharam errado, não acharam que haveria represália.
A cultura da objetificação da mulher diz, de certa forma, que o homem deve ter todas as suas necessidades satisfeitas a hora que quiser e da forma que quiser, e a mulher deve sempre estar disposta a satisfazer tais necessidades. Daí vem as pessoas com ideias do tipo "não merece ser estuprada, não. Mas com essa roupinha aí? Facilitou né?". Em suma: a mulher deve tomar todo cuidado para que o homem não tenha vontade, porque se ele tiver ela precisa satisfazê-lo. Olha que infantilidade absurda. Ainda ouvimos "mas tava bêbada/drogada". Bizarro conhecer muitos caras que já beberam ou já usaram drogas usar esse argumento. Pregar o puritanismo pros outros é bom, né? Não venham dizer que não teria sido estuprada se estivesse em casa, na igreja, na escola, porque mulheres são estupradas em todos esses lugares.Além disso, a maior parte dos estupros ainda acontece dentro de casa, por familiares.
Essa cultura é fruto, em parte, da propaganda. Mulher sendo tratada como objeto é comum na mídia. Alguém pode perguntar "mas então porque essas mulheres aceitam fazer a propaganda?". Okay, a mulher faz o que quiser com o próprio corpo, inclusive se vender na TV se ela achar que deve. Quando falamos sobre a cultura machista deve ficar claro que isso é uma coisa generalizada, e é compartilhada pela maior parte das pessoas. Assim como tem mulher que propaga o machismo, tem negro que propaga o racismo, tem pobre que prega o liberalismo econômico.
Mas a questão não é proibir a mulher de fazer propaganda se vulgarizando. Não é sobre a liberdade individual dela sobre si mesma que me refiro, mas é sobre o que esses comerciais representam. É sobre parecer normal que a mulher seja um ser sem vontade ou personalidade individual,que está ali somente para satisfazer as vontades masculinas.



É comum ver mulheres que se habituam a esse sistema de submissão. Como as modelos que fazem essas propagandas, como as mulheres que xingam as outras pela forma de se vestir, pelas gurias que falam mal das gurias que ficam com muitos guris. Essa gente nem percebe, mas defende um sistema que o homem pode (e deve, na medida do possível) fazer tudo o que quiser. Que o homem pode andar de bermuda de futebol e sem camisa na rua, pode beber até não lembrar o que fez na noite anterior, pode ficar com várias mulheres (isso é até status). Que a mulher deve ser "bela, recatada e do lar", senão é piranha.
E pra finalizar, não venha com o papinho demagogo barato "o 'mito' propôs castração química para estupradores", porque isso não altera a cultura do estupro. É fato de conhecimento comum que homens que são presos por estupro são estuprados dentro da cadeia (apesar de eu não ter lido em alguma fonte sobre isso, sempre ouvi a respeito em vários lugares), mas isso não impede que aconteçam estupros, certo? Em alguns países a homossexualidade é punida com a morte, mas isso não impede que pessoas do mesmo sexo se amem nesses lugares. Em alguns estados no EUA a pena de morte é prevista em lei, mas isso não impede as pessoas de praticarem os crimes que levam à cadeira elétrica, não é?
Além disso, o problema do estupro não se restringe à penetração. É o conceito na cabeça do cara de que ele pode fazer o que quiser com a mulher. Se castrar o cara ele vai continuar com a sua perversão, podendo começar a usar objetos para isso.
A punição por parte do Estado é necessária, mas não é suficiente para resolver nenhum problema. A solução para isso é discussão de gênero em todos os setores da sociedade, começando pela educação.


Muito boa a sua reflexão. Sempre concordei que temas polêmicos ou com muitos comentários vagos deveriam ser assumidos pela educação. Muito antes do estupro, há alguns anos atrás os temas divididos entre a escola e a família, sobre debater ou não na escola era drogas e gravides na adolescência. Se esses temas e outros fossem debatidos e refletidos desde muito cedo acredito que muito diminuiriam os casos. Infelizmente ouço que se " falarmos sobre vai despertar ". Então vamos seguindo até onde é quando não sei, remando contra a maré.
ResponderExcluirMuito boa a sua reflexão. Sempre concordei que temas polêmicos ou com muitos comentários vagos deveriam ser assumidos pela educação. Muito antes do estupro, há alguns anos atrás os temas divididos entre a escola e a família, sobre debater ou não na escola era drogas e gravides na adolescência. Se esses temas e outros fossem debatidos e refletidos desde muito cedo acredito que muito diminuiriam os casos. Infelizmente ouço que se " falarmos sobre vai despertar ". Então vamos seguindo até onde é quando não sei, remando contra a maré.
ResponderExcluir